À CONVERSA COM: NUNO DA CAMARA PEREIRA - MONÁRQUICO E AFICIONADO

D. NUNO MARIA DE FIGUEIREDO CABRAL DA CÂMARA PEREIRA é alguém sobejamente conhecido e assumidamente apaixonado e defensor da Festa Brava. Ligado ao fado por tradição familiar, o nosso entrevistado, Monárquico de linhagem, enveredou pela participação activa na política, tendo chegado a deputado da nação. Honrado e de fortes convicções, acaba de anunciar a sua candidatura, numa lista independente à Câmara Municipal de Sintra. Recebeu amavelmente a equipa do Porta dos Sustos no seu gabinete de trabalho, dispondo-se a partilhar as suas ideias. Lançámos algumas perguntas relacionadas com a sua paixão pela Festa brava, por Sintra, pelo Fado…





PS – A política para si é um fado corrido, menor ou de dois tons…?
NCP – Dois tons…sempre a dois tons, o tom maior e o tom menor. Como um fado, por tradição, tem sempre dois tons, um menor e outro maior; Em politica, também existem dois tons, pois pode ser uma actividade com grande entoação, de grande responsabilidade, como pode ser uma coisa mais perversa e mais irresponsável.

PS – Como sente o momento actual da tauromaquia portuguesa?
NCP – Tremendo….Acho que todos temos de colocar mãos à obra e termos conta desta problemática,   Actuarmos de uma maneira mais criteriosa, mais artística, mais honesta, com mais galhardia, para também conseguirmos dar outra imagem da Festa. Resumindo, nunca podemos esperar que alguma vez o político apoie com alguma dignidade  e sem sobranceria, o espectáculo tauromáquico, embora haja raras excepções.

PS – Se pudesse estabelecer um paralelismo com a lei da rádio, cuja aprovação partiu de uma proposta sua, e que fez na altura inverter uma tendência negativa e decrescente a que estava condenada a música portuguesa, que medidas implementaria na Festa? Que artistas é que para si “passavam” sempre?
NCP – Eu não vou por aí…. Não vou nomear artistas, não seria justo. Porque, tal escolha parece-me ser da sensibilidade do público e aficionados.  Agora, o que é certo, é que cabe, logicamente, aos promotores da Festa, que são os empresários, saber escolher o fado maior em detrimento do fado menor. A Festa não pode nunca ser um fado menor, um acontecimento menor, tem de ser sempre encarado como um acontecimento maior.


PS – Com a sua eleição para a CMS, vai acabar o antitaurismo que tem sido apanágio dos anteriores executivos camarários?

NCP – A Assembleia Municipal de Sintra não votou contra o espectáculo tauromáquico. O que fez, tanto quanto sei, foi decidir não promover o espectáculo, o que são coisas completamente distintas. A assembleia municipal, que é sufragada através do voto, deve representar e dar eco, com o apoio do executivo como é óbvio, a tudo o que os munícipes reclamem para si, seja o desporto, a música, e, claro um espectáculo com tanta tradição como é o caso do  tauromáquico. Tanto assim é que este espectáculo não é, única e exclusivamente,  um evento com animais, é um espetáculo transversal no qual as pessoas, dos mais variados quadrantes, são parte integrante, nomeadamente através da música. Através das corridas de toiros também as bandas filarmónicas podem ser promovidas, o que acontece em Sintra, e através dos Bombeiros Voluntários e das diversas colectividades lá existentes. Portanto, há muitas maneiras de apoiarmos, divulgarmos e justificarmos o espectáculo tauromáquico em Sintra. O Este concelho,  com 600 mil pessoas, é daqueles  que mais relevância dá ao cavalo nomeadamente através da sua utilização para os mais variados fins; Ora, a promoção do espectáculo tauromáquico é igualmente uma forma de enaltecer a nobreza do cavalo, coisa que em Sintra só poderá acontecer pela mão das corridas de toiros, pois não há corridas de cavalos nem hipódromos.
Sendo um dos objectivos do meu programa o apoio do uso do cavalo, enobrecendo-o pela criação de um hipódromo que actualmente não existe, através de um recinto/manga para as corridas a cavalo, o que também não acontece pois não estão permitidas as apostas mútuas neste desporto, o que o inquina à partida estes acontecimentos culturais.  Ou  são feitos com algum patrocínio, porque  autarquias que não têm dinheiro  têm de ir buscar à iniciativa privada e esta só pode justificar-se, envolver-se numa problemática destas, havendo uma coisa chamada lucro. Sem isso, não há possibilidades nenhumas porque pelas razões de que conhecemos a economia das câmaras está limitada.



PS – Acha que alguns dos símbolos de Sintra, tal como o eléctrico da Praia das Maças, o Centro Cultural Olga Cadaval têm sido subaproveitados?
NCP – Completamente. O eléctrico não se justifica. Nem sei como têm lata de dizer que existe um eléctrico, que funciona no máximo três meses, e não faz sentido não se ter feito um eléctrico até às Azenhas do Mar; Ao lado deste equipamento podia perfeitamente haver uma ciclovia, porque, por exemplo, não há passeios na zona. O Centro Cultural Olga Cadaval está completamente desarticulado da vertente para o qual foi criado, que é o apoio à cultura. O que sinto aqui em Sintra é que houve um grande apoio ao desporto, mas não à cultura, nem à música, nem a determinados aspectos de Sintra, nomeadamente a Serra de Sintra … Porque é que com esta intempérie de Janeiro foram abaixo tantas árvores? Porque a Serra de Sintra só foi analisada e cuidada no aspecto dos fogos e quando deviam ter pensado na Serra para as intempéries, também. Como? Através do desbaste das árvores, da limpeza do arvoredo, para que as árvores não “entrassem em competição” umas com as outras para que desenvolvessem no seu sistema natural como deve ser, para que não ficassem à procura de luz, e para quando viesse o vento tinham bases na terra e não teriam altura par ficar ao sabor da loucura do vento. Em resumo, não se pode nunca pensar com seriedade em Sintra, quando temos autarcas que não vivem cá. É absurdo e completamente ridículo pensar-se em eleger autarcas que não são dos concelhos nem tão pouco lá vivem pois falam do que não sabem, não apontam as soluções que o concelho precisa e, depois, não é com um mandato de quatro anos que se fica a conhecer um concelho .

PS – Para concluir, e de forma sucinta, diga-nos o que vai mudar em Sintra, com a sua eleição?
NCP – Mais importante do que mudar as coisas físicas, ter este ou aquele projecto, acho que o que é importante para um autarca, e um autarca de Sintra, é saber viver Sintra e mudar a consciência colectiva. Pôr as pessoas a pensar em Sintra e a ter uma atitude diferente uns com os outros e mudar o orgulho de ser ou não ser saloio de Sintra. Sem mudarmos a filosofia de pensamento das pessoas, de cada munícipe de Sintra, não é possível mudar nada, porque tudo aquilo que se possa fazer nada irá ao encontro do que para as pessoas é o mais importante: o saberem conviver umas com as outras. E as pessoas em Sintra, quando não existe uma pirâmide social, quando vivemos todos desarticulados uns dos outros, quando não há uma sociedade estratificada, e temos todos direitos uns iguais aos outros, não há exemplos a seguir. Portanto, é fundamental as pessoas pensarem que têm de ter gente que manda, mas que sabe mandar e que sabe ser o exemplo. E só serão exemplo se eles também souberem viver Sintra. Se a pessoa que manda não sabe viver em Sintra, como é que ela pode dar o exemplo maior àqueles que dele podem depender? Porque inclusivamente, a autarquia é das maiores entidades empregadoras do concelho. O que urge principalmente mudar em Sintra, mais do que as coisas físicas, é a mentalidade das pessoas que lá vivem.

PPF