C. SILVA E J. ALCACHÃO EMBOLADORES

Fomos visitar o atlier do embolador José Alcachão Silva, para ficarmos a conhecer um bocadinho melhor esta arte tão pouco lembrada da tauromaquia e tão importante e fundamental para a mesma.
José Alcachão Silva, nasceu em Rio Frio a 2 de Setembro de 1953, está há mais de 20 anos ligado ao mundo dos toiros, 16 dos quais com carteira profissional.
Esta sua actividade é partilhada com o seu sócio e amigo Carlos Alberto Simões, nascido em Alcácer do Sal a 16 de Dezembro 1956.
Juntos já realizaram esta temporada, cerca de 45 corridas de toiros.
Após uma animada e descontraída conversa sobre toiros e sobre experiências vividas por estes dois simpáticos senhores, soubemos que irão estar presentes com um stand na conceituada feira Beja Brava (CerciBeja).


J.A.S. -“Vai ser gratificante voltar a participar neste projecto. Vamos estar novamente presentes com o nosso stand, onde teremos muitos artigos que vão deixar os aficionados de água na boca.”



P.D.S.-Quisemos também saber mais pormenores de como se embola um toiro.
J.A.S. -“É um trabalho árduo e com algum risco, mas que com sabedoria e paixão pela arte se faz. Na maioria das praças do nosso país, temos uma corda e uma tranca. Laçamos o toiro, mete-se a tranca e aconchega-se o toiro. Por vezes já nos tem acontecido que quando o toiro é muito largo de cabeça, temos que retirar a tranca, mas aí o nosso trabalho fica mais dificultado e perigoso, temos que o embolar e pensar no que estará ele a pensar, pois o toiro fica solto dentro da manga. As embolas que são metidas nos pitons, são feitas de cabedal e têm uma proteção interior de ferro ou inox (copo) que protege tanto forcados como os cavalos e cavaleiros.
Para desembolar, também tem a sua arte. Temos que proceder ao mesmo método para segurar o toiro e depois de tirar as embolas, procuramos encontrar a maneira como o ferro foi colocado e com as costas de uma faca retiramos os ferros. É rápido.
O valor de cada par de embolas pode chegar a custar cerca de 150€, e só são novas uma vez. “
P.D.S. - É uma arte que sai cara! Que tipos de material utilizam?
J.A.S. - “Bom, temos as embolas, os paus para fazer as bandarilhas, o papel para as mesmas, as bandeiras, os ferros, as molas para os ferros… sim é muito material!”


P.D.S. - Sustos, garantidamente que já teve alguns…
J.A.S. - “Sim, normalmente são coisas leves… mas quando temos que embolar em cima das camionetas, o que é normal em praças desmontáveis, é mais complicado. Já me aconteceu ir parar 3 vezes ao hospital, já arranquei a cabeça do dedo, já parti um braço e não tenho conta de quantos entalões.  Fora o que vejo acontecer aos meus colegas.”
P.D.S.- Ferros e bandarilhas.  Qual a quantidade de bandarilhas utilizadas por corrida?
J.A. S. -“Pode rondar as 50 ou 60. Agora veja fazer uma média de 40 ou 50 corridas por temporada… é muita bandarilha! “
P.D.S - Os toureiros têm as suas preferências, conte-nos algumas.
J.A.S. - Há varias coisas que podem mudar consoante os toureiros, desde as cores que são enfeitadas as bandarilhas, por exemplo, Paulo Caetano, gostava do branco e prata,  a Sónia Matias gosta de Azul e Dourado, o João Salgueiro gosta de Azul e Branco, muitos gostam das cores da nossa bandeira (verde e vermelho) o comum é não gostarem de amarelo. Quanto à ferragem propriamente dita, o Ferro é composto por um arpão de 2 barbelas e 8cm de comprimento, um taco de madeira de 10cm que é isolado com uma proteção de borracha para fazer os 30cm como manda o regulamento, fica tudo enfeitado mas maleável e só alguns toureiros dizem que é uma solução, outros preferem os ferros tradicionais. Cada um tem as suas preferências, é normal!
P.D.S -É uma arte com continuação? Há muitos emboladores?
J.A.S. -“Ainda há alguns, mas infelizmente os mais velhos vão desaparecendo e os mais novos, são poucos os que querem aprender. Disse uma vez e volto a dizer: Se isto fosse rosas, todos queriam cá andar! Mas há muitos espinhos e não é fácil!” Estamos neste momento cerca de vinte e poucos nesta arte.

P.D.S - Qual a praça que mais gosta de embolar?
J.A.S -“Gosto de muitas, mas talvez o Campo Pequeno.”
C.A.S. – “ Gosto de embolar em todas, mas especialmente na praça da minha terra, Alcácer do Sal.”
P.D.S. –Alguma mensagem em especial que gostariam de deixar para a boa continuação da festa?
 J.A.S. – “Sim, era fundamental que houvesse mais seriedade por parte de algumas empresas! Era meio caminho andado!”
P.D.S. - Pode ajudar o comum aficionado a perceber melhor esta “coisa” dos ferros curtos, compridos, palmitos, etc…
J.A.S. – “O ferro comprido é composto por um pau de madeira com 1.40m de comprimento e um bico no máximo com 8cm. Esse bico tem 2 arpões de 4cm de comprimento e 2cm de largura. O pau de madeira, leva um pequeno corte aos 35cm, a que chamamos de quebra. Essa é a parte que ao ser cravada, fica no toiro. O pau é enfeitado com papel e normalmente a maioria leva uma bandeira.
Um ferro curto é composto por um pau de madeira de 80cm, e um bico de 2 arpões cujas medidas são normalmente iguais às de um ferro comprido, podendo por vezes ser um pouco mais pequenos. São também todos enfeitados com papel.
Os pares de bandarilhas para o toureio a cavalo têm 90cm e o bico é só de 1 arpão, que também não pode exceder os 8cm. São enfeitadas com papel e ambas iguais.
Os ferros de Palmo (palmitos) é um pau de madeira com 35cm e um bico de um arpão. Também há os chamados ferros de palmo As Rosas, estes são ferros de adorno, com as mesmas dimensões e características que os de palmo, mas com uma rosa para se tornar diferente.
As bandarilhas para o toureio apeado devem ter entre os 60 e 70cm e os bicos são só de um arpão que não deve exceder os 8cm de comprimento.
A diferença entre ter um arpão ou dois é o nome, para bandarilhas são os de um arpão e para ferro os de 2 arpões.”
P.D.S. – Obrigada pela vossa disponibilidade e simpatia. Muita sorte e muitas corridas!

Maria Mil-Homens